A presidenta Dilma Roussef, eleita por mais de 54 milhões de brasileiros nas últimas eleições, passou a ser ré no processo de impeachment, após a votação no Senado, que aprovou, por 59 votos a 21, o relatório da Comissão Especial que recomenda seu julgamento pelo plenário da Casa. Na última etapa do processo, após o depoimento das testemunhas, os senadores votarão pela condenação ou absolvição da presidenta, em sessão presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, onde serão necessários 54 votos para confirmar o impedimento de Dilma.
Tudo caminha para confirmar o jogo de cartas
marcadas.Num processo que não se sustenta na acusação
de que a presidenta tenha cometido crime de
responsabilidade, fica cada vez mais evidente a motivação política do
impeachment, para devolver o poder às velhas oligarquias e articular o fim das investigações da Operação Lava Jato, conforme ficou comprovado nas delações do ex-presidente da
Transpetro, Sérgio Machado.
Iniciado de forma viciada,
na Câmara dos Deputados, por meio de uma atitude revanchista do então
presidente Eduardo Cunha, que não contou com os votos do PT na Comissão de
Ética para barrar o processo de cassação do seu mandato, o impedimento da
presidenta significa a mais ardilosa articulação de um
golpe que aniquila a democracia brasileira.
Para concretizar o afastamento de Dilma, o
vice-presidente montou um verdadeiro balcão de negócios nos
bastidores e articulou um ministério para atender os interesses dos parlamentares, distribuindo cargos e vantagens
no Governo Federal. Agora, com a caneta na mão, o presidente interino ameaça os senadores, deixando claro
que só vai contemplar com cargos e outras benesses aqueles que votarem a favor
do golpe.
Em pleno cenário de Olimpíadas, podemos dizer
que o jogo em Brasília é bruto, truculento, sem o mínimo de ética. Os jogadores jogam, mesmo com comprovado uso de
doping, ou seja, delatados nos esquemas de corrupção. Enquanto no Senado a
farsa caminha para o lance final, com a cantilena das pedaladas fiscais
repetida à exaustão pelos golpistas, o governo ilegítimo da direita
conservadora volta com muita sede ao pote, para impor o estado ultraneoliberal. Sem aguardar a consolidação do impeachment, articula, desde já, a aprovação de
projetos que vão comprometer a oferta dos serviços públicos, reduzindo
investimentos em áreas essenciais como saúde e ducação; do projeto da terceirização; da reforma da Previdência; de mudanças na legislação trabalhista, para privilegiar as convenções coletivas; das privatizações; de
venda do Pré-Sal; de venda de terras para
estrangeiros. Medalha de ouro para o retrocesso.
O que
mais me preocupa é que grande parte da sociedade brasileira continua
assistindo tudo das arquibancadas da Globo e Cia Ltda, e não se deu conta ainda
do que está em curso no País. Quanto aos trabalhadores, se não reagirem a tempo, por meio de suas organizações de classe e dos
movimentos sociais, sofrerão perdas de conquistas históricas, numa conjuntura de crise e ameaças de desemprego. Amanhã ou depois,
poderá ser tarde demais para barrar tamanho
ataque aos direitos e avanços sociais.
A luta tem que continuar. Não podemos
abandonar a arena antes de o jogo terminar. Em se
confirmando o afastamento definitivo da presidenta Dilma, no
Senado, é preciso acionar o Supremo Tribunal Federal, apesar de o mesmo
estar, em parte, comprometido com o golpe, e denunciar os vícios do processo, já
que, no presidencialismo, não cabe o afastamento do mandatário da nação
por razões políticas ou por perda de sustentação na base parlamentar, mas apenas por comprovado cometimento de
crime de responsabilidade. É preciso, ainda, denunciar o golpe nos organismos internacionais, como
a Comissão de Direitos Humanos da OEA, bem como levar ao conhecimento dos países com tradição democrática.
A articulação parlamentar-jurídico-midiática quer,
não só interromper o governo legítimo da presidenta Dilma,
mas também condenar o ex-presidente Lula, para inviabilizá-lo como candidato nas próximas eleições, e cancelar o registro do
Partido dos Trabalhadores no TSE, enterrando de vez um projeto político popular
no Brasil. Enquanto isso, o Palácio
do Planalto e a Câmara preparam
um plano para salvar Eduardo Cunha, que teria dito a um delator que sustenta financeiramente 200 deputados.
As medalhas de ouro estão ficando só para os
golpistas. Ou reagimos agora com força ou ficamos sem
medalha alguma quando a pira olímpica se apagar.