Faltando pouco mais de uma semana para a realização
do Exame Nacional do Ensino Médio, 37 funcionários do Inep – Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão responsável pelas
provas, pediram demissão de seus cargos, alegando
censura, falta de comando técnico, clima de insegurança e medo na instituição.
Segundo denunciaram em entrevista ao Fantástico do último domingo, o Presidente
do Inep, Danilo Dupas, teria ido até a sala segura onde as provas ficam armazenadas e lido as
questões montadas pelas equipes técnicas. Depois disso, teria solicitado a exclusão de mais de vinte questões
das provas. “Eram questões que tratavam principalmente da história recente do país,
dos últimos 50 anos. Sob o ponto de vista da equipe técnica, não havia qualquer
reparo pedagógico a ser feito na primeira versão da prova”, afirmaram.
Enquanto este absurdo acontecia na preparação do mais importante
processo avaliativo de estudantes para o ingresso nas universidades públicas brasileiras
e de muitas particulares, o presidente da República, em entrevista concedida
durante sua viagem a Dubai, afirmava: "começam agora a ter a cara do governo
as questões da prova do Enem. Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas
questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a
ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado."
Confesso que nada mais me causa surpresa neste desgoverno do Brasil, mas
fiquei completamente indignado com esta situação. É absolutamente inadmissível
que isto aconteça: interferência política no conteúdo de um exame para atender
à linha ideológica de um governo anti-ciência, negacionista, despreparado,
autoritário, que joga a todo momento com a desinformação da população. Isso me
lembra a censura da ditadura militar brasileira, instalada no golpe de 1964,
quando professores de história eram perseguidos e os conteúdos do que se
ensinava nas escolas passavam pelo crivo do governo.
Não dá para aceitar que o Presidente do Inep, que segundo funcionários
do órgão é extremamente despreparado para exercer o cargo que ocupa, pegue uma
prova e saia riscando os itens por não gostar ou não aprovar seu conteúdo,
obrigando o corpo técnico a refazer a prova por duas vezes. Isso representa um
grande retrocesso, tanto para a instituição, quanto para o Exame Nacional, que
vinha avançando em organização, eficiência e credibilidade nos últimos anos. O
Inep tem 84 anos de existência e, vinculado ao Ministério da Educação, é uma
das maiores e mais especializadas instituições de avaliação educacional do
mundo. As provas do Enem, compostas por 180 questões retiradas do Banco
Nacional de Itens, onde se encontram milhares de questões, são elaboradas por
professores selecionados através de um edital.
A preocupação do governo federal deveria ter sido com a situação de
milhões de estudantes pobres brasileiros, que não tiveram condições de se
preparar adequadamente para as provas no período da pandemia, uma vez que não
tiveram os recursos tecnológicos necessários para acompanhar o ensino remoto
ou, até mesmo, tiveram que deixar de estudar para correr atrás da
sobrevivência. O descaso do presidente da República com os empobrecidos deste
país chega a causar revolta.
Nos próximos finais de semana, 3.109.762 estudantes, o menor número de
inscritos no Enem desde 2005, vão buscar uma vaga no ensino superior, sonhando
com um futuro melhor por meio da sua formação acadêmica. Infelizmente, o exame
a que vão se submeter tem a cara desse governo. Lamento que esta geração de
alunos tenha que passar por estes momentos sombrios. Espero que em breve
possamos voltar a viver tempos de conquistas, avanços e progressos na Educação
do Brasil. Vamos esperançar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário