terça-feira, 16 de novembro de 2021

Enem com a cara do Governo

 


Faltando pouco mais de uma semana para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio, 37 funcionários do Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão responsável pelas provas, pediram demissão de seus cargos, alegando censura, falta de comando técnico, clima de insegurança e medo na instituição. Segundo denunciaram em entrevista ao Fantástico do último domingo, o Presidente do Inep, Danilo Dupas, teria ido até a sala segura onde as provas ficam armazenadas e lido as questões montadas pelas equipes técnicas. Depois disso, teria solicitado a exclusão de mais de vinte questões das provas. “Eram questões que tratavam principalmente da história recente do país, dos últimos 50 anos. Sob o ponto de vista da equipe técnica, não havia qualquer reparo pedagógico a ser feito na primeira versão da prova”, afirmaram.

Enquanto este absurdo acontecia na preparação do mais importante processo avaliativo de estudantes para o ingresso nas universidades públicas brasileiras e de muitas particulares, o presidente da República, em entrevista concedida durante sua viagem a Dubai, afirmava: "começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado."

Confesso que nada mais me causa surpresa neste desgoverno do Brasil, mas fiquei completamente indignado com esta situação. É absolutamente inadmissível que isto aconteça: interferência política no conteúdo de um exame para atender à linha ideológica de um governo anti-ciência, negacionista, despreparado, autoritário, que joga a todo momento com a desinformação da população. Isso me lembra a censura da ditadura militar brasileira, instalada no golpe de 1964, quando professores de história eram perseguidos e os conteúdos do que se ensinava nas escolas passavam pelo crivo do governo.

Não dá para aceitar que o Presidente do Inep, que segundo funcionários do órgão é extremamente despreparado para exercer o cargo que ocupa, pegue uma prova e saia riscando os itens por não gostar ou não aprovar seu conteúdo, obrigando o corpo técnico a refazer a prova por duas vezes. Isso representa um grande retrocesso, tanto para a instituição, quanto para o Exame Nacional, que vinha avançando em organização, eficiência e credibilidade nos últimos anos. O Inep tem 84 anos de existência e, vinculado ao Ministério da Educação, é uma das maiores e mais especializadas instituições de avaliação educacional do mundo. As provas do Enem, compostas por 180 questões retiradas do Banco Nacional de Itens, onde se encontram milhares de questões, são elaboradas por professores selecionados através de um edital.

A preocupação do governo federal deveria ter sido com a situação de milhões de estudantes pobres brasileiros, que não tiveram condições de se preparar adequadamente para as provas no período da pandemia, uma vez que não tiveram os recursos tecnológicos necessários para acompanhar o ensino remoto ou, até mesmo, tiveram que deixar de estudar para correr atrás da sobrevivência. O descaso do presidente da República com os empobrecidos deste país chega a causar revolta.

Nos próximos finais de semana, 3.109.762 estudantes, o menor número de inscritos no Enem desde 2005, vão buscar uma vaga no ensino superior, sonhando com um futuro melhor por meio da sua formação acadêmica. Infelizmente, o exame a que vão se submeter tem a cara desse governo. Lamento que esta geração de alunos tenha que passar por estes momentos sombrios. Espero que em breve possamos voltar a viver tempos de conquistas, avanços e progressos na Educação do Brasil. Vamos esperançar! 

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