Os sinais dados pelo presidente da República há algum tempo estão claros. Como percebe que cada vez mais sua reeleição está ficando difícil, o que demonstram as pesquisas de intenção de voto e de avaliação do seu governo, Bolsonaro procura criar um clima de instabilidade política no país, põe em suspeição o processo eleitoral brasileiro e ataca as instituições como se estivessem conspirando a todo momento contra seu governo e seus apoiadores (cada vez mais reduzidos), principalmente o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal.
Para ganhar sobrevida à frente da Presidência da República, Bolsonaro entregou seu governo ao chamado Centrão, um grupo formado por 170 a 220 deputados (segundo as estimativas) de diferentes partidos, que se unem para conseguir maior influência no parlamento e defender, de modo conjunto, seus interesses. A maior parte das legendas que compõem o Centrão não tem uma atuação ideológica clara (apesar de serem classificadas como de centro e centro-direita em muitas ocasiões) e se articulam basicamente para negociar apoio ao Executivo em troca de cargos na administração pública. É uma bancada de parlamentares que fazem a dita “velha política”, do jogo de interesses, muitas vezes escusos, e do fisiologismo, ou seja, que visa à satisfação de vantagens pessoais ou partidárias, em detrimento do bem comum. O Centrão é a última tábua de salvação do governo, até para evitar que um dos mais de 132 pedidos de impeachment seja aceito pelo presidente da Câmara e dê andamento a um processo que poderá antecipar a troca de presidente.
Mas não seremos pegos de surpresa. Caso o afastamento do presidente não se consume, a aprovação do seu governo continue a despencar e os índices de intenção de votos para sua reeleição caiam ainda mais, Jair Bolsonaro tentará um golpe para permanecer no poder. Os sinais estão bem claros, explicados, gravados e documentados para quem quiser se certificar. O factoide do tal voto impresso e auditável, em não sendo aprovado pelo Congresso, será o argumento para alegar fraude na eleição, caso sua derrota se confirme, e basear sua tentativa de golpe.
Para Bolsonaro e os militares que o apoiam não há outro resultado aceitável para as próximas eleições que não seja a sua vitória nas urnas. E se isso não acontecer, o que hoje é muito provável, vão ensaiar um clima de instabilidade político-institucional, contando com a fúria e o fanatismo de seus seguidores, e vão alegar que foram roubados e que não será possível comprovar a lisura da votação. Vão tentar reeditar o filme que assistimos nos EUA, com a derrota do Trump e a invasão do Capitólio, ou algo parecido. Não é à toa que o presidente nomeou mais de seis mil militares em cargos do seu governo, e estes não vão querer largar as "tetas" tão fácil.
E o que nós, defensores do Estado de Direito e da democracia, estamos fazendo desde já diante dessa possibilidade? E qual será nossa posição, caso isso se confirme em 2022?
Desde agora temos que nos manifestar de alguma forma, seja nas ruas ou nas redes sociais e canais alternativos de comunicação, para formarmos uma consciência cívica de compromisso com a democracia e pressionarmos para que as instituições basicamente funcionem na garantia do cumprimento da Constituição federal. Além do mais, temos que denunciar que o presidente comete crime de responsabilidade a todo momento e que seu governo é o governo do desemprego, da miséria, da fome, da inflação dos alimentos, da supressão dos direitos duramente conquistados pela classe trabalhadora, do desmatamento e das queimadas ilegais de nossas florestas. É o governo de grileiros, garimpeiros, milicianos e corruptos, que negociam propinas nas compras de vacinas. É o governo genocida, que com seu "tratamento precoce" é responsável pela morte de milhares de brasileiros nesta pandemia.
Estejamos alertas!
Golpe nunca mais!
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