segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Quem vai pagar pelas mortes das pessoas que se trataram com Kit Covid?

 


Estou me lembrando agora que, no auge da pandemia do Covid-19 no ano passado e no início deste ano, pelo menos em três ocasiões em que estive em farmácias para comprar medicamentos, escutei pessoas ao meu lado no balcão comprando Cloroquina e Ivermectina para realizarem “tratamento precoce” contra a doença. Em pelo menos numa ocasião o vendedor disse que os medicamentos estavam em falta devido à grande procura. Várias pessoas conhecidas minhas e, até mesmo familiares, fizeram uso destes medicamentos por conta própria, sem prescrição médica, porque ouviram dizer que preveniam sintomas mais graves em caso de contaminação com o novo coronavírus. É claro que essas pessoas foram influenciadas pela propaganda enganosa e criminosa promovida pelo governo Bolsonaro, seja por meio de pronunciamentos, lives e vídeos nas mídias sociais do próprio presidente, seja por recomendações do Ministério da Saúde, na contramão dos estudos científicos e orientações de especialistas da área da saúde, que concluíram pela ineficácia desses medicamentos para a prevenção ou tratamento da Covid-19. Bolsonaro, além de incentivar o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, retardou o programa de vacinação no Brasil, pôs em dúvida a eficácia das vacinas, estimulou aglomerações enquanto cientistas orientavam o isolamento social e defendeu uma teoria de “imunidade de rebanho” sem qualquer respaldo científico.

Como é possível que um presidente da República, que não tem formação em medicina e conhecimentos técnicos na área possa prescrever medicamentos sem eficácia comprovada para uma doença nova e que ainda está sendo pesquisada em todo mundo por especialistas em saúde? Como pode um Ministério da Saúde de um país recomendar o uso de medicamentos, sendo que um deles podem apresentar efeitos colaterais graves em pacientes cardíacos, quando estudos científicos revelam ineficácia para a doença? Quanta irresponsabilidade! Quantas vidas se perderam por causa de tais procedimentos da parte dessas autoridades, que deveriam zelar pela correta condução das medidas de enfrentamento à pandemia, na perspectiva de preservar e salvar da morte as pessoas do seu país? Essas autoridades responderão por tais condutas?

A CPI da Covid no Senado Federal tem revelado situações muito graves envolvendo agentes do governo federal em conluio com lobistas e empresas, tanto em condutas negacionistas, desdenhando das medidas sanitárias recomendadas pela OMS, quanto em esquemas para o desvio de recursos públicos na aquisição de vacinas e de remédios sem eficácia para a doença. Muita gente lucrou com isso e, com certeza, muitas outras pessoas iriam se beneficiar com quantias vultosas, se não fossem pegas com a boca na botija.

Outro episódio que veio à tona recentemente, e que está sendo investigado por autoridades policiais, é o que envolve a empresa Prevent Senior, que promoveu um estudo irregular, antiético e criminoso, com falso tratamento precoce contra a Covid-19 e que matou nove pessoas, mas que impulsionou lucro recorde da empresa nos últimos cinco anos. Agora que ficou claro que cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina não funcionam – e, inclusive, podem aumentar a mortalidade por covid-19 –, a Prevent Senior passou a ser investigada pela CPI. Dossiê elaborado por médicos da empresa revelou protocolos indecentes, como impor remédios ineficazes aos pacientes nos serviços médicos do plano, submetê-los a tratamentos experimentais sem autorização de autoridades sanitárias e familiares e ocultar mortes em uma estudo feito irregularmente. A conduta da Prevent Senior não foi apenas um experimento feito por médicos negacionistas, que lembra, em certa medida, o “Estudo Tuskegee de Sífilis Não-Tratada em Homens Negros”, ocorrido no Alabama, Estados Unidos, de 1932 à 1972, e que foi uma das situações que mais contribuiu para o avanço da Bioética. Ela tinha outro propósito: dar dinheiro. Muito dinheiro. E teve como cúmplices pessoas influentes do mercado financeiro, que incentivaram e lucraram muito com a distribuição indiscriminada de kits covid para os pacientes. O protocolo de tratamento precoce da empresa teve muita propaganda grátis e o próprio presidente Bolsonaro divulgou os resultados do estudo irregular, que supostamente mostrava a eficácia da cloroquina. Desta forma, o estudo recebeu respaldo pseudocientífico e passou a alimentar no país a esperança de um tratamento que não existia.

A pergunta que fazemos é: quem vai pagar pelas mortes de pessoas que fizeram tratamento com o Kit Covid? Será que tudo vai ficar por isso mesmo?

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