Estou escrevendo este texto nesta véspera do 7 de setembro
deste 2021, enquanto vejo pelas redes sociais pessoas tomando as ruas da
capital federal e se manifestando, muitas eufóricas, outras destilando palavras
de ódio e outras, ainda, parecendo ensandecidas como que participando de um “movimento
revolucionário” para livrar o país do fantasma comunista. O que desejam com as
manifestações estimuladas pelo próprio presidente da República e financiadas,
certamente, pelos setores econômicos que estão satisfeitos com as exportações
das commodities e com a precarização
dos direitos da classe trabalhadora? Querem expressar seu apoio ao presidente,
que governa com a ausência do Estado e pela máxima da liberdade do deus mercado;
para que permaneça no cargo, mesmo que pela força das armas. Também querem o
fechamento do Supremo Tribunal Federal e a morte de dois ministros, um deles por
estar atuando no combate às afrontas à Constituição e ao Estado Democrático de
Direito, e o outro por ter se manifestado contra a volta do voto impresso nas
eleições. Parece inacreditável estarmos vivendo tudo isso, num momento em que o
país atravessa uma grave crise, agravada pela pandemia, com a econômica à
deriva, com inflação em alta e mais de 14 milhões de brasileiros desempregados.
Na última sexta-feira, dia 3, Jair Bolsonaro elevou ainda
mais o tom autoritário contra os poderes da República, em particular o
Judiciário. Afirmou que o 7 de setembro servirá de ultimato aos ministros do
Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Ou bem
eles se curvam à vontade “do povo” – ou seja, de Bolsonaro – ou ele e sua trupe
jogarão fora “das quatro linhas da Constituição. Isso é uma ameaça de que, em caso
de sua vontade não prevalecer sobre a lei e as instituições da democracia, vai
se impor pela força? Será que teremos que ver aqui o que aconteceu nos EUA com
a invasão do Capitólio por manifestantes igualmente eufóricos e ensandecidos,
frustrados com a derrota do seu “mito” Trump? Acho que, se isso acontecer por
aqui, será um vexame ainda maior.
O presidente da República, que não para de criar factoides para
desviar a atenção das pessoas da sua incapacidade para governar, dos crimes
cometidos por membros de sua família e das denúncias de corrupção no seu
governo, principalmente as reveladas pela CPI do senado, que investiga esquema
de propina na compra de vacinas contra a Covid, alimenta seus apoiadores por
meio da rede muito bem montada de disseminação de fake news e desperta nelas seus sentimentos mais irracionais de
ódio aos pobres e a tudo que esteja ligado à luta por justiça social, respeito
aos direitos humanos e convivência com as diferenças.
Mas, enquanto assistimos a estas cenas lamentáveis, estamos
nos preparando para, também, sair às ruas em protesto. Há 27 anos, nós realizamos
o Grito dos Excluídos no Brasil, que no início foi uma iniciativa da Igreja
Católica e que depois passou a ser também organizado e realizado por movimentos
sociais e sindicais de trabalhadores. Tive a oportunidade de participar de
todos eles, nos primeiros anos como um dos organizadores pela arquidiocese de
Campo Grande e agora como apoiador.
O Grito sempre se propôs a denunciar a desigualdade social em
nosso país, que relega milhões de brasileiros, das cidades e do campo,
indígenas e comunidades tradicionais, a condições de pobreza e miséria, impedindo-os
de ter acesso aos seus direitos de cidadania e de viver com dignidade. Esta
denúncia foi feita durante os governos da direita, da esquerda e, agora, da
extrema-direita, e vai continuar até que tenhamos um país mais justo e solidário.
Estaremos gritando por um país que promova o desenvolvimento econômico junto
com o desenvolvimento social e que preserve o meio ambiente, nossa Casa Comum.
Nosso grito é por vida digna para todos os brasileiros e brasileiras, sem
exclusões, sem violências, sem discriminações e com liberdade e felicidade
partilhada. Um grito das dores do povo que hoje sofre e que quer celebrar o
amanhã da paz brotada da justiça. Grito por quem já não consegue mais gritar.
Grito do silêncio daqueles que se foram pela pandemia transformada em genocídio
por aqueles que brincaram de negar a ciência.
Neste ano, o Grito dos Excluídos, além de denunciar o aumento
da pobreza, do custo de vida, do desemprego e da fome, o desrespeito ao meio
ambiente, a tragédia da pandemia, vai ser um grito contra o autoritarismo e em
favor da democracia, uma vez que esta vem sendo ameaçada pelo chefe da nação e
seus apoiadores. Vai ser um movimento de resistência democrática, em defesa da
vida, do SUS e por políticas públicas sociais para proteger os mais pobres. Vai
ser o Grito da Resistência e da conjugação coletiva nas ruas do verbo esperançar,
por aqueles e aquelas que têm coração generoso e coragem de lutar!
Grata pelas palavras e parabéns!!
ResponderExcluirObrigado!!
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