terça-feira, 5 de outubro de 2021

Haverá espaço para uma terceira via nas eleições para presidente?


Pelo menos até o momento, parece não haver espaço no cenário político, há um ano das eleições de 2022, para o surgimento de uma candidatura que se apresente como uma opção a Lula e Bolsonaro. Segundo pesquisas de intenção de votos, temos hoje uma polarização na preferência do leitorado entre o candidato do PT e o atual presidente da República, da extrema direita. Os últimos levantamentos apontam que entre 22% e 24% votariam em Bolsonaro, e que o ex-presidente Lula vem crescendo a ponto de estar perto de uma vitória ainda no primeiro turno, caso as eleições fossem hoje.   

Diante deste cenário, partidos e políticos da direita e do centro discutem a viabilização de uma candidatura presidencial para se tornar o que chamam de terceira via, ou seja, nem Lula nem Bolsonaro. Neste caso, os partidos teriam que abrir mão de lançar vários nomes para a corrida presidencial e apoiar um único nome, que pudesse angariar apoio popular e chegar ao segundo turno das eleições, devendo obrigatoriamente derrotar um dos dois candidatos que aparecem melhor colocados na preferência dos brasileiros na atual conjuntura.   

A menos que estejam fazendo "balão de ensaio", acredito que há uma indisposição de alguns nomes desse campo político de abrirem mão de suas candidaturas. No PSDB existe, até mesmo, dois nomes disputando a indicação do partido, que seria resolvida com a realização de prévias entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Os dois têm percorrido os estados atrás de apoio dos correligionários e parecem dispostos a seguir até o fim. Ciro Gomes, que disputou a última eleição presidencial, em 2018, ficando em terceiro lugar, mostra-se candidatíssimo, criticando o governo federal e, até de forma mais ácida ainda, atacando a candidatura de Lula, para se tornar a alternativa anti-Bolsonaro. Além destes, ensaiam uma pré-candidatura, o ex-ministro Sérgio Moro, hoje morando nos EUA, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, Simone Tebet do MDB, que tem se destacado nas oitivas da CPI da Covid, Alessandro Vieira, do Cidadania, e, saindo das sombras para "salvar" o país do caos institucional ameaçado por Bolsonaro e dar seus pitacos na política, o ex-presidente Michel Temer.  

 Alguns movimentos mais concretos têm sido provocados pela direita para a viabilização de uma terceira via nas eleições de 2022, como as manifestações promovidas pelo Movimento Brasil Livre (MBL) no dia 12 de setembro, em contraposição às de apoio ao presidente no dia da Independência. Também a golpista Rede Globo procura ajudar a viabilizar a terceira via, promovendo uma entrevista no último dia 26 de setembro com os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Alessandro Vieira (Cidadania). A poderosa rede de televisão, que não quer mais Bolsonaro, por estar tendo muito prejuízo financeiro em seu governo com o corte das verbas publicitárias oficiais, embora apoie sua política econômica, tem se esmerado incansavelmente em desgastar Bolsonaro, sua família e seus apoiadores. Por outro lado, não quer a volta de Lula, o qual tem denunciado o papel que a emissora desempenhou no golpe contra a ex-presidenta Dilma, no apoio à Lava Jato e a Sergio Moro e na sua condenação e prisão, formando uma opinião pública massiva contra o PT e suas lideranças. Porém, até o presente momento, as tentativas de unificação da direita não estão dando sinais de sucesso.   

No meu entendimento, se não houver uma mudança brusca no cenário político atual, como por exemplo, o impedimento do presidente da República e a declaração de sua inelegibilidade, não vejo como a eleição não ser polarizada entre Lula, que traz consigo o legado de oito anos de governo bem sucedido nas políticas públicas sociais, na geração de empregos e distribuição de renda, na condução da política econômica e nas relações internacionais, e Bolsonaro, que tem uma base social de apoio radicalizada em defesa do seu ideário conservador e ultraliberal.    

Não sou partidário da ideia de uma "frente ampla" com o intuito apenas de derrotar Bolsonaro. O problema não está só em tirar o presidente do poder, mas em derrotar seu programa e sua política econômica. Setores da direita, por exemplo, são contra Bolsonaro, mas apoiam Paulo Guedes, que defende o estado mínimo, as privatizações e, consequentemente, o desmonte do estado, a precarização dos serviços públicos, a redução dos direitos da classe trabalhadora e uma política internacional subserviente. Aliás, muitos que agora se apresentam como opção a Bolsonaro, estiveram no seu palanque em 2018 e contribuíram para levar o Brasil para este desgoverno que estamos vivendo. Teve até quem fosse passear em Paris, a fim de não ajudar Haddad a enfrentar a extrema-direita no segundo turno. Neste sentido, penso que seria salutar que os partidos lançassem seus candidatos e se propusessem a debater um programa para o país nos próximos anos. Meu sentimento, contudo, é que a maioria do povo brasileiro quer o fortalecimento da democracia, um governo que promova a justiça social, induza o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental e projete o Brasil no cenário internacional com altivez e soberania.