quinta-feira, 19 de maio de 2016

GOVERNO ILEGÍTIMO DE TEMER E A MARCA DO RETROCESSO


 

Terminada a primeira semana do governo ilegítimo de Michel Temer, já se pode fazer uma constatação e uma previsão. A constatação é a de que se trata de um governo retrógrado, prepotente, machista e autoritário. A previsão é a de que prepara medidas com vistas a implementar um programa de governo de cunho neoliberal, com cortes nas políticas sociais e supressão de direitos dos trabalhadores.

A posse do ministério interino já jogou um balde de água fria naqueles que alimentavam alguma expectativa positiva em função das promessas modernizantes desferidas pelos articuladores do golpe. Uma equipe ministerial formada exclusivamente por homens brancos e compromissados com o atraso.

A ausência de mulheres e negros no primeiro escalão, algo que não se via desde a ditadura militar, não é um mero detalhe. É a desconsideração do fato relevante de que as mulheres representam 51,5% da população brasileira e os afrodescendentes, 54%. É uma omissão que reflete a falta de compromisso com esses segmentos, que nas últimas décadas vêm lutando por igualdade de direitos e oportunidades, e pelo fim das mais diversas formas de violência a que muitos estão submetidos. É emblemática, neste aspecto, a extinção dos Ministérios de Políticas Públicas para as Mulheres, de Promoção da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

O perfil dos ministros interinos é assustador. Composta por representantes do Congresso Nacional – claro, tinha que ser paga a conta do apoio parlamentar para se consolidar o assalto ao poder – a equipe é extremamente heterogênea, retrógrada e desarticulada. Seus membros tentam tocar uma orquestra desafinada, afirmando hoje uma coisa para desdizer ou justificar depois com um “não foi bem isso que eu quis dizer”; uns desautorizados pelo chefe; outros sem saber o que falar à nação. Mas todos anunciando que vão fazer um levantamento da situação para posteriormente anunciar medidas. Pois bem, estavam preparando o golpe há meses e, até agora, não têm uma medida administrativa para anunciar?

Um objetivo está sendo posto em prática até o momento, desconstruir o governo legitimamente eleito. Querem passar a ideia do caos instalado, até para justificar medidas que, certamente, virão, pois já sinalizam a adoção de cortes e ajustes. Atribuem o aprofundamento da crise econômica à incompetência da presidente Dilma, mas não assumem que fizeram de tudo para prejudicar e boicotar sua administração, ajudados pela campanha cotidiana da mídia contra o governo e o PT. Lembro que falaram pela primeira vez em impeachment uma semana após as eleições em 2014.

Falam muito em rever os últimos atos administrativos do governo anterior: atos praticados por José Eduardo Cardozo à frente do Ministério da Justiça e da Advocacia Geral da União; demarcações de terras indígenas e regularização de terras quilombolas; beneficiários do programa Bolsa Família; metas de construção de habitações do Minha Casa Minha vida; revisão do tamanho do SUS, entre outros. Como bem afirmou Jânio de Freitas, em sua coluna na Folha de São Paulo, “as revisões (...) compõem um conjunto caracterizadamente persecutório e policialesco. Sua amplitude e prioridade evidenciam tratar-se, não da verificação de eventuais impropriedades, mas de arbitrariedade e prepotência como política de governo. Uma política que expressa a índole do governo e do próprio Temer, no mínimo por se sujeitar, como marionete, a corrompidos, improbos e fraudadores à sua volta”.

E por falar em corrompidos, temos que registrar também que não menos de um terço dos ministros interinos responde a processos por corrupção no STF e são citados na Operação Lava Jato. Para completar, o governo ilegítimo é forçado por sua base parlamentar a aceitar como seu líder na Câmara o aliado de Eduardo Cunha, deputado André Moura (PSC-PE), réu em três ações penais no STF e investigado em outros três inquéritos, inclusive por suposta participação em tentativa de homicídio.

Por fim, a previsão que se pode fazer desse governo provisório é que sua principal missão será a de promover reformas para suprimir conquistas sociais e direitos dos trabalhadores. Na concepção dos atuais governantes, o Estado deve ser enxuto, na medida apenas para atender às necessidades de expansão e acumulação do capital, mas nunca para promover o bem-estar da população. Penso que o que se avizinha é uma onda de privatizações, terceirizações, parcerias público-privadas, em outras palavras, precarização das relações de trabalho, flexibilização da legislação trabalhista e reforma da Previdência, inclusive para quem está na ativa. Mais uma vez, sabemos quem vai pagar a conta.

 

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