quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Ministro da Des-educação diz que universidade "deveria ser para poucos"

 



O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em entrevista à TV Brasil que a universidade deveria ser um espaço de acesso "para poucos". Ao defender a volta às aulas presenciais e ironizar a demanda dos professores por vacinação contra a Covid-19, disse que os institutos federais, com ensino tecnológico e profissionalizante, serão "as vedetes do futuro". Para sustentar a sua visão sobre o que propõe para a educação no país, Ribeiro afirmou que hoje o Brasil tem muitos engenheiros e advogados "dirigindo Uber" por falta de colocação no mercado de trabalho, mas que se fossem técnicos em informática estariam empregados, porque há demanda muito grande. 

A afirmação desse ministro não me surpreende, uma vez que todos nós sabemos da orientação política do governo ao qual ele integra, que é um governo ultraliberal e à serviço das elites econômicas. O que está por trás deste pensamento é a visão elitista, a concepção dualista que marcou quase toda a história da educação brasileira, ou seja, de um lado, um tipo de instrução para os filhos das classes abastadas da sociedade, capaz de prepará-los para serem os futuros gerentes da empresas e dirigentes da nação, e de outro, uma educação apenas elementar, de baixa qualidade, voltada para os filhos da classe trabalhadora, uma vez que o futuro que se lhes reservava era o de vender sua mão de obra para o capital. 

O que o ministro bolsonarista prega, afinal, é exatamente isto: reservar as universidades para os estudantes da burguesia, que tiveram todas as oportunidades para estudar em bons colégios, de adquirir uma boa base de conhecimentos, que frequentaram escolas de línguas, informática e outros cursos complementares. Àqueles que tiveram que dividir seu tempo entre estudar e trabalhar, que não tiveram acesso fácil aos materiais didáticos e aos recursos tecnológicos da informação, que frequentaram as escolas públicas e enfrentaram o descaso dos governos com a educação, basta-lhes uma formação inicial genérica e uma formação profissionalizante, para conquistarem um emprego e ajudarem no orçamento de suas famílias. Aos primeiros, o direito de pensar, refletir, acumular conhecimentos, especializarem-se e manterem-se no topo da pirâmide social. Aos segundos, o dever de trabalhar em empregos cada vez mais precarizados, como funcionários terceirizados, sem direitos trabalhistas ou, como disse o ministro, "dirigindo Uber", e sustentar a pirâmide. 

A ideia de uma universidade elitista não é exclusiva do atual ministro Milton Ribeiro. O primeiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, também afirmou em 2019 que "a universidade não é para todos, mas somente para algumas pessoas". A similaridade das duas falas deixa claro que a proposta de um ensino superior elitista é uma política de governo. Resta-nos, portanto, rechaçar tal política retrógada e excludente, e defender uma educação inclusiva, democrática, laica, de qualidade social, como direito de todos os cidadãos e cidadãs, voltada à produção científica e ao acesso à cultura e ao conhecimento acumulado pela humanidade. 

Seguiremos na resistência ao atraso, ao negacionismo científico, às políticas excludentes e na luta para realizar o sonho do grande educador brasileiro Paulo Freire, cujo centenário de nascimento celebramos neste ano, o de uma educação emancipadora das camadas populares, libertadora e transformadora da realidade social. 

Senhor ministro da Des-educação do governo Bolsonaro, o Ministério da Educação não é para todos. 




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