segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Vai ser o Grito da Resistência e da conjugação coletiva nas ruas do verbo esperançar, por aqueles e aquelas que têm coração generoso e coragem de lutar!

 

Estou escrevendo este texto nesta véspera do 7 de setembro deste 2021, enquanto vejo pelas redes sociais pessoas tomando as ruas da capital federal e se manifestando, muitas eufóricas, outras destilando palavras de ódio e outras, ainda, parecendo ensandecidas como que participando de um “movimento revolucionário” para livrar o país do fantasma comunista. O que desejam com as manifestações estimuladas pelo próprio presidente da República e financiadas, certamente, pelos setores econômicos que estão satisfeitos com as exportações das commodities e com a precarização dos direitos da classe trabalhadora? Querem expressar seu apoio ao presidente, que governa com a ausência do Estado e pela máxima da liberdade do deus mercado; para que permaneça no cargo, mesmo que pela força das armas. Também querem o fechamento do Supremo Tribunal Federal e a morte de dois ministros, um deles por estar atuando no combate às afrontas à Constituição e ao Estado Democrático de Direito, e o outro por ter se manifestado contra a volta do voto impresso nas eleições. Parece inacreditável estarmos vivendo tudo isso, num momento em que o país atravessa uma grave crise, agravada pela pandemia, com a econômica à deriva, com inflação em alta e mais de 14 milhões de brasileiros desempregados.  

Na última sexta-feira, dia 3, Jair Bolsonaro elevou ainda mais o tom autoritário contra os poderes da República, em particular o Judiciário. Afirmou que o 7 de setembro servirá de ultimato aos ministros do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Ou bem eles se curvam à vontade “do povo” – ou seja, de Bolsonaro – ou ele e sua trupe jogarão fora “das quatro linhas da Constituição. Isso é uma ameaça de que, em caso de sua vontade não prevalecer sobre a lei e as instituições da democracia, vai se impor pela força? Será que teremos que ver aqui o que aconteceu nos EUA com a invasão do Capitólio por manifestantes igualmente eufóricos e ensandecidos, frustrados com a derrota do seu “mito” Trump? Acho que, se isso acontecer por aqui, será um vexame ainda maior.  

O presidente da República, que não para de criar factoides para desviar a atenção das pessoas da sua incapacidade para governar, dos crimes cometidos por membros de sua família e das denúncias de corrupção no seu governo, principalmente as reveladas pela CPI do senado, que investiga esquema de propina na compra de vacinas contra a Covid, alimenta seus apoiadores por meio da rede muito bem montada de disseminação de fake news e desperta nelas seus sentimentos mais irracionais de ódio aos pobres e a tudo que esteja ligado à luta por justiça social, respeito aos direitos humanos e convivência com as diferenças.

Mas, enquanto assistimos a estas cenas lamentáveis, estamos nos preparando para, também, sair às ruas em protesto. Há 27 anos, nós realizamos o Grito dos Excluídos no Brasil, que no início foi uma iniciativa da Igreja Católica e que depois passou a ser também organizado e realizado por movimentos sociais e sindicais de trabalhadores. Tive a oportunidade de participar de todos eles, nos primeiros anos como um dos organizadores pela arquidiocese de Campo Grande e agora como apoiador.

O Grito sempre se propôs a denunciar a desigualdade social em nosso país, que relega milhões de brasileiros, das cidades e do campo, indígenas e comunidades tradicionais, a condições de pobreza e miséria, impedindo-os de ter acesso aos seus direitos de cidadania e de viver com dignidade. Esta denúncia foi feita durante os governos da direita, da esquerda e, agora, da extrema-direita, e vai continuar até que tenhamos um país mais justo e solidário. Estaremos gritando por um país que promova o desenvolvimento econômico junto com o desenvolvimento social e que preserve o meio ambiente, nossa Casa Comum. Nosso grito é por vida digna para todos os brasileiros e brasileiras, sem exclusões, sem violências, sem discriminações e com liberdade e felicidade partilhada. Um grito das dores do povo que hoje sofre e que quer celebrar o amanhã da paz brotada da justiça. Grito por quem já não consegue mais gritar. Grito do silêncio daqueles que se foram pela pandemia transformada em genocídio por aqueles que brincaram de negar a ciência.

Neste ano, o Grito dos Excluídos, além de denunciar o aumento da pobreza, do custo de vida, do desemprego e da fome, o desrespeito ao meio ambiente, a tragédia da pandemia, vai ser um grito contra o autoritarismo e em favor da democracia, uma vez que esta vem sendo ameaçada pelo chefe da nação e seus apoiadores. Vai ser um movimento de resistência democrática, em defesa da vida, do SUS e por políticas públicas sociais para proteger os mais pobres. Vai ser o Grito da Resistência e da conjugação coletiva nas ruas do verbo esperançar, por aqueles e aquelas que têm coração generoso e coragem de lutar!


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